
E o destino passa por mim
Como uma pluma caprichosa passa pelos olhos dum gato
Como o avião passa no céu do camponês
Como a cidade passa pelo convalescente que sai pela primeira vez
Nos olhos da mulher que não perdi nem ganhei...
Nos olhos que durante um segundo me compreenderam
E amaram
Na sua ternura quase insuportável
O destino passa...
No amigo que lentamente é puxado para o outro lado da razão
E um dia mergulha na sombra que trazia em si por resolver
O destino cumpre-se e passa
Na praia nocturna que as ondas visitam e deixam
Como as imagens que sem cessar me assaltam e abandonam
Na espuma que esmago contra a areia muito fria
Na mulher que me acompanha e comigo se perde na noite
Nos soluços de luz verde que um farol nos envia
O destino detém-se e passa
Na inesperada hora de felicidade vivida um pouco a medo
Como os amantes quando percorrem as ruas desertas dum jardim
Um pouco a medo
Como a breve noite de amor em que um homem se encontra e refugia
O destino demora-se e passa
Estou onde não devia estar
Mas basta
basta
basta...
Alexandre O'Neill
