terça-feira, maio 07, 2013

A pele que há em mim

Quando o dia entardeceu
E o teu corpo tocou
Num recanto do meu
Uma dança acordou
E o sol apareceu
De gigante ficou
Num instante apagou
O sereno do céu
E a calma a aguardar lugar em mim
O desejo a contar segundo o fim.
Foi num ar que te deu
E o teu canto mudou
E o teu corpo no meu
Uma trança arrancou
E o sangue arrefeceu
E o meu pé aterrou
Minha voz sussurrou
O meu sonho morreu
Dá-me o mar, o meu rio, minha calçada.
Dá-me o quarto vazio da minha casa
Vou deixar-te no fio da tua fala.
Sobre a pele que há em mim
Tu não sabes nada.
Quando o amor se acabou
E o meu corpo esqueceu
O caminho onde andou
Nos recantos do teu
E o luar se apagou
E a noite emudeceu
O frio fundo do céu
Foi descendo e ficou.
Mas a mágoa não mora mais em mim
Já passou, desgastei
Para lá do fim
É preciso partir
É o preço do amor
Para voltar a viver
Já nem sinto o sabor
A suor e pavor
Do teu colo a ferver
Do teu sangue de flor
Já não quero saber.
Dá-me o mar, o meu rio, a minha estrada.
O meu barco vazio na madrugada
Vou deixar-te no frio da tua fala.
Na vertigem da voz
Quando enfim se cala.

sábado, fevereiro 09, 2013

Música e expressão

Tocar violino (ou qualquer outro instrumento) é expressar através dos braços, mãos e pontas dedos aquilo que não é possível através da garganta. Ocorre-me que em situações em que o paciente tem cisão cabeça - coração, a Musicoterapia poderá ser uma mais valia para, aos poucos, o som começar a emergir naturalmente: primeiro através de um objeto intermédio (o violino); posteriormente pelas próprias cordas vocais, com vocalizações e cantar canções; e, por fim, a verbalização sobre o mundo interno das sensações, imagens. O facto de a própria prática de tocar violino se realizar de pé permite também ao paciente manter grounding postural, ao mesmo tempo que contacta e expressa o seu grounding interno.

sábado, janeiro 26, 2013

Pedicure

Há um mês tomei a decisão de começar a cuidar dos meus pés.

Porque ando muito, porque tenho dores, porque são a base de todo o corpo e a qualquer momento (como foi possível verificar por histórias paralelas) podem sofrer danos irreversíveis ou muito pouco simpáticos que causam ainda mais dor.
Não foi por isso (só!) por uma questão de estética.
E ali estou eu hoje, quando de repente tocar no dedo grande do pé direito é um martírio. Já em sessões anteriores (esporádicas!) senti essa dor aguda, mas nunca permiti que a questão fosse resolvida (sim, mariquinhas dos pés!). E fui sempre adiando... Cuidados para não infetar, creme hidratante para não gretar...
Porém hoje, a pedicure vira-se e diz: "Tenho mesmo de tirar isto!"
E dei por mim a dizer: "Ok!", com um arrepio para a dor que isso me ia causar...
De repente, apercebi-me que esta ida à pedicure deu-me material muito importante: estou a cuidar da minha base, do meu grounding interno. E apenas agora tenho possibilidade de tirar o que está a mais, aquilo que não é mais importante e (alas!) ir a fundo nas questões que me causam dor, para poder integrá-las como parte de mim.
A pedicure retirou tudo? Não! Posso amanhã ter necessidade de cuidado extra com o dedo? Sim! E é por isso que este foi um insight tão importante!