sábado, outubro 30, 2004

Lost in Translation

Não resisto e digo-lhe o quanto gosto do seu sorriso. É um sorriso meigo e espontâneo que me aquece e me faz também sorrir. É como se de repente me fizessem um carinho. Não é paixão. É ternura. E é também das poucas coisas que não precisa tradução.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Sinfonia

Diz-me o que nos aconteceu. Deixámos de brilhar mutuamente e tornámo-nos estranhos um para o outro. Teu abraço deixou de ser o meu amparo. Tuas mãos abertas deixaram de percorrer o meu corpo com o mesmo carinho e sedução. Teu destino deixou de ser o meu e o nosso local secreto desapareceu por entre as brumas. Será que lutámos o suficiente contra o silêncio que se impôs entre nós? Talvez não se tenha fortificado sozinho. Mas deixei de perceber as palavras que proferes e os sinais que antes tinhamos deixaram de fazer sentido.

Agora tudo está tranquilo à nossa volta mas permanecemos na chuva. Nada mais há aqui. Nada mais há a dizer. Chove, e é melhor partir. De alguma forma falhou este nosso plano. Há muito tempo que o final estava escrito e esta foi apenas a nossa Sinfonia.

terça-feira, outubro 19, 2004

Cor de burro quando foge

É como está o tempo hoje. Sempre gostei desta expressão para usar quando não se sabe muito bem que cor dar, seja a que for. E quando vinha pela estrada fora a caminho de casa, vim contemplando as nuvens numa correria por cima de mim, os tons de céu, todos cinzentos, as árvores a serem verdadeiramente molestadas pela ventania, que não abranda a pedido. As folhas, muitas folhas cobrindo o chão a gosto do vento. De facto o tempo está directamente associado ao humor. E, agora que penso nisso, hoje, também estou cor de burro quando foge.
By Silver

domingo, outubro 17, 2004

Comboio

Andar de comboio é sempre uma aventura. Acontece todo o tipo de situações caricatas, que nos dão vontade de sorrir e quem sabe dar uma boa gargalhada. Mas não é isso que torna a viagem tão interessante. É a troca de olhares. Confesso que adoro esta cumplicidade. Basta um brilhozinho nos olhos e o momento fica registado para sempre.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Plano superior

Damos demasiada importância aos acontecimentos. Acho que é por isso que acabamos por admitir, em momentos de reflexão profunda, que as coincidências não existem. Porque de alguma forma temos necessidade de criar ligações entre factos que aparentemente estão isolados. Mas temos que forçosamente relacioná-los. Não precisamos disso para sermos felizes, mas ajuda-nos a ter uma visão clara das peças do puzzle.
É como aquela música que queríamos tanto ouvir e que já há dois dias não conseguimos apanhar na rádio. E de repente ali está, no zapping da televisão e ao primeiro acorde lembramos tudo, do primeiro momento em que a ouvimos e começamos a recordar tudo o que pensávamos ter esquecido. E pronto! Não há coincidências. Porque recebes mensagem daquela pessoa que estava contigo naquela situação. Ou toca um sino, ou ouve-se um grito, há um clique e Bang! De repente somos como Pedro depois do galo cantar: amargurados, tristes, saudosistas...
E temos vergonha de admitir o erro, de admitir que eram mesmo dois factos isolados. Acabam as coincidências e pensamos estar mais próximos de todo aquele plano superior.

Acaso

Estes pequenos factos que se vão relacionando, estes encontros casuais que acontecem (quem sabe como e porquê) são de facto momentos de ternura, quando a inocência nos toca verdadeiramente. E só aí conseguimos ver a vida do "outro lado do tapete". E tudo faz sentido. Porque nos deixamos ser inocentes, deixamos de ter receios do mundo. E de nós.

domingo, outubro 10, 2004

O Deus das pequenas coisas

De vez em quando, algo nos cerca, regateando subtilmente a nossa atenção. Às vezes, mesmo quando parecemos envenenados e absortos na estridente vulgaridade deste nosso quotidiano, há algo que nos cumprimenta de forma afável, se apresenta e nos conquista para sempre. Esses momentos, esses impactos vigorosos que ficam eternamente registados na nossa vida, na nossa alma, e influenciam a nossa forma de ver o mundo, felizmente, se prestarmos atenção, ainda não são tão raros assim. É a música, é a pintura, é uma conversa, é um livro, são muitos livros, é um beijo, são muitos beijos, é uma boa refeição, um bom vinho, é uma fracção do silêncio. É um filme...

Há poucas coisas que nos fazem felizes. Diria que são pequenas coisas, pequenos acontecimentos na nossa vida. São pequenas chamadas de atenção, como se de repente tivessemos entrado num outro mundo. E aí percebemos que a vida é mesmo simples. Se realmente conseguirmos ver a beleza destas pequenas coisas, viveremos sempre encantados com a vida. E a vida connosco. Sim, há pequenos momentos de plena felicidade...

sexta-feira, outubro 08, 2004

Cerejas

Ah! Se houvesse cerejas hoje! Que bom seria poder saboreá-las até ao último raio de sol. Era um novo começo, um novo sabor na vida.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Estrondo

Não te esqueças de fechar a porta, devagar por favor que da última vez que conversámos sobre o assunto bateste a porta com tanta força que o quadro que tinha pendurado no corredor caiu seco sobre os tacos de madeira. Não é pelo quadro, nem pela escolha forçada de uma nova cercadura, é pelo soar do estrondo que fica dias e dias a ecoar na minha cabeça juntamente com todas as palavras amargas que não és capaz de evitar de todas as vezes que voltamos a conversas que não deviam ser repetidas, pelo menos para já, que as almas estão ainda agitadas porque também não se volta ao mar enquanto a tempestade não acaba.

a propósito da Chuva

Se houvesse forma de conhecer as palavras sem as proferir, haveria solidão e silêncio em torno da expectativa do amanhã. Será que Lisboa terá chuva novamente? Será que há uma nova carta à qual queremos desesperadamente responder mas não encontramos forma de o fazer. Sempre as palavras que nos faltam e que no entanto nos enchem e preenchem constantemente deixando-nos à deriva.

Maçã

Adão comeu uma maçã da Árvore do Conhecimento. É uma pena que as maçãs tenham acabado.