quinta-feira, dezembro 09, 2004

Carta

Quando as palavras surgem é melhor deixá-las sair em turbilhão. Sei que não aceitas tudo o que digo, mas nem sempre consigo travar o pensamento e adivinhas sempre o que penso. Os anos passam mas continuamos na mesma, sempre à espera que o outro caia em falso. Não devia ser assim, mas insistimos neste jogo. Nunca sei o que esperar de ti. E quem sabe se o contrário não acontece também...

Certezas nunca as tive, apenas desejos. E continuo a desejar-te muito. Sinto falta da tua presença, do teu toque, mas o último olhar que trocámos continua cravado no tempo. Pelo menos no meu tempo. Porque não deixámos as palavras surgirem nessa altura? Sei que muitas vezes o melhor é deixar o tempo passar e deixá-lo cravar em nós a sua lança da mudança, para conseguirmos voltar a proferir palavras ousadas ou quem sabe olhar-nos novamente.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Al otro lado del río

Quantas vezes remei para a outra margem porque via uma luz que me puxava até ela? Mas sempre que lá chego, a luz volta à margem de onde parti.
Sou como barca errante entre margens perdidas. E remo, remo. Remo sempre.

sábado, outubro 30, 2004

Lost in Translation

Não resisto e digo-lhe o quanto gosto do seu sorriso. É um sorriso meigo e espontâneo que me aquece e me faz também sorrir. É como se de repente me fizessem um carinho. Não é paixão. É ternura. E é também das poucas coisas que não precisa tradução.

segunda-feira, outubro 25, 2004

Sinfonia

Diz-me o que nos aconteceu. Deixámos de brilhar mutuamente e tornámo-nos estranhos um para o outro. Teu abraço deixou de ser o meu amparo. Tuas mãos abertas deixaram de percorrer o meu corpo com o mesmo carinho e sedução. Teu destino deixou de ser o meu e o nosso local secreto desapareceu por entre as brumas. Será que lutámos o suficiente contra o silêncio que se impôs entre nós? Talvez não se tenha fortificado sozinho. Mas deixei de perceber as palavras que proferes e os sinais que antes tinhamos deixaram de fazer sentido.

Agora tudo está tranquilo à nossa volta mas permanecemos na chuva. Nada mais há aqui. Nada mais há a dizer. Chove, e é melhor partir. De alguma forma falhou este nosso plano. Há muito tempo que o final estava escrito e esta foi apenas a nossa Sinfonia.

terça-feira, outubro 19, 2004

Cor de burro quando foge

É como está o tempo hoje. Sempre gostei desta expressão para usar quando não se sabe muito bem que cor dar, seja a que for. E quando vinha pela estrada fora a caminho de casa, vim contemplando as nuvens numa correria por cima de mim, os tons de céu, todos cinzentos, as árvores a serem verdadeiramente molestadas pela ventania, que não abranda a pedido. As folhas, muitas folhas cobrindo o chão a gosto do vento. De facto o tempo está directamente associado ao humor. E, agora que penso nisso, hoje, também estou cor de burro quando foge.
By Silver

domingo, outubro 17, 2004

Comboio

Andar de comboio é sempre uma aventura. Acontece todo o tipo de situações caricatas, que nos dão vontade de sorrir e quem sabe dar uma boa gargalhada. Mas não é isso que torna a viagem tão interessante. É a troca de olhares. Confesso que adoro esta cumplicidade. Basta um brilhozinho nos olhos e o momento fica registado para sempre.

segunda-feira, outubro 11, 2004

Plano superior

Damos demasiada importância aos acontecimentos. Acho que é por isso que acabamos por admitir, em momentos de reflexão profunda, que as coincidências não existem. Porque de alguma forma temos necessidade de criar ligações entre factos que aparentemente estão isolados. Mas temos que forçosamente relacioná-los. Não precisamos disso para sermos felizes, mas ajuda-nos a ter uma visão clara das peças do puzzle.
É como aquela música que queríamos tanto ouvir e que já há dois dias não conseguimos apanhar na rádio. E de repente ali está, no zapping da televisão e ao primeiro acorde lembramos tudo, do primeiro momento em que a ouvimos e começamos a recordar tudo o que pensávamos ter esquecido. E pronto! Não há coincidências. Porque recebes mensagem daquela pessoa que estava contigo naquela situação. Ou toca um sino, ou ouve-se um grito, há um clique e Bang! De repente somos como Pedro depois do galo cantar: amargurados, tristes, saudosistas...
E temos vergonha de admitir o erro, de admitir que eram mesmo dois factos isolados. Acabam as coincidências e pensamos estar mais próximos de todo aquele plano superior.

Acaso

Estes pequenos factos que se vão relacionando, estes encontros casuais que acontecem (quem sabe como e porquê) são de facto momentos de ternura, quando a inocência nos toca verdadeiramente. E só aí conseguimos ver a vida do "outro lado do tapete". E tudo faz sentido. Porque nos deixamos ser inocentes, deixamos de ter receios do mundo. E de nós.

domingo, outubro 10, 2004

O Deus das pequenas coisas

De vez em quando, algo nos cerca, regateando subtilmente a nossa atenção. Às vezes, mesmo quando parecemos envenenados e absortos na estridente vulgaridade deste nosso quotidiano, há algo que nos cumprimenta de forma afável, se apresenta e nos conquista para sempre. Esses momentos, esses impactos vigorosos que ficam eternamente registados na nossa vida, na nossa alma, e influenciam a nossa forma de ver o mundo, felizmente, se prestarmos atenção, ainda não são tão raros assim. É a música, é a pintura, é uma conversa, é um livro, são muitos livros, é um beijo, são muitos beijos, é uma boa refeição, um bom vinho, é uma fracção do silêncio. É um filme...

Há poucas coisas que nos fazem felizes. Diria que são pequenas coisas, pequenos acontecimentos na nossa vida. São pequenas chamadas de atenção, como se de repente tivessemos entrado num outro mundo. E aí percebemos que a vida é mesmo simples. Se realmente conseguirmos ver a beleza destas pequenas coisas, viveremos sempre encantados com a vida. E a vida connosco. Sim, há pequenos momentos de plena felicidade...

sexta-feira, outubro 08, 2004

Cerejas

Ah! Se houvesse cerejas hoje! Que bom seria poder saboreá-las até ao último raio de sol. Era um novo começo, um novo sabor na vida.

sexta-feira, outubro 01, 2004

Estrondo

Não te esqueças de fechar a porta, devagar por favor que da última vez que conversámos sobre o assunto bateste a porta com tanta força que o quadro que tinha pendurado no corredor caiu seco sobre os tacos de madeira. Não é pelo quadro, nem pela escolha forçada de uma nova cercadura, é pelo soar do estrondo que fica dias e dias a ecoar na minha cabeça juntamente com todas as palavras amargas que não és capaz de evitar de todas as vezes que voltamos a conversas que não deviam ser repetidas, pelo menos para já, que as almas estão ainda agitadas porque também não se volta ao mar enquanto a tempestade não acaba.

a propósito da Chuva

Se houvesse forma de conhecer as palavras sem as proferir, haveria solidão e silêncio em torno da expectativa do amanhã. Será que Lisboa terá chuva novamente? Será que há uma nova carta à qual queremos desesperadamente responder mas não encontramos forma de o fazer. Sempre as palavras que nos faltam e que no entanto nos enchem e preenchem constantemente deixando-nos à deriva.

Maçã

Adão comeu uma maçã da Árvore do Conhecimento. É uma pena que as maçãs tenham acabado.

terça-feira, setembro 28, 2004

And

We used to think that if we knew one, we knew two, because one and one are two. We are finding out that we must learn a great deal more about "and".

By Sir Arthur Eddington
(1882-1944)

sexta-feira, setembro 24, 2004

Indecisão

Porque é que dizemos as coisas se logo depois nos arrependemos? Se não falássemos tanto e agíssemos mais seria tudo mais fácil. As palavras são fronteiras para os nossos sentimentos e são elas que nos travam, porque nos obrigam a mostrar um passaporte de cada vez que queremos viajar até outro mundo. O problema é que nunca sabemos se o passaporte está em dia. E só quando o mostramos é que nos apercebemos que por vezes nem queríamos viajar. Mas como, se sempre pensámos ser essa a nossa viagem de sonho?

quinta-feira, setembro 23, 2004

Mundo

É como se o tempo tivesse parado e eu pudesse flutuar por entre mundos reais e imaginários.

segunda-feira, setembro 20, 2004

Raposa

Cada vez me convenço mais que a vida é uma raposa matreira sempre à espera de uma oportunidade para pregar uma partida. Se nos distraímos, somos capazes de não perceber a diferença entre o real e o imaginário. O ideal seria deixar entrar em nós o espírito da raposa. Talvez aí pudessemos sorrir com os truques e brincadeiras do destino.

terça-feira, setembro 14, 2004

Tempo e esperança

Se o tempo passasse por mim e com ternura me abraçasse pela última vez... e sorrisse! Poderia suportar a sua ausência, sem receios e sem lágrimas. Mas tal seria fatal para a esperança. Onde não há tempo, não há esperança.

quinta-feira, setembro 09, 2004

Tu

Me alegra tanto oír tu voz aunque dormido,
por fin me acabas como en tus sueños buscando un sitio para volver,
y sin poder olvidar lo que dejas lo que has aprendido,
van a cambiar las caras, los sueños, los días
y yo lentamente te pierdo.

Como un regalo que al ensuciarse tiró quien limpiara
como un baso después de verver el baso más dulce
como un adiós con un te quiero y con mis labios en tus dedos
para no pronunciar las palabras que dan tanto miedo
te vas e te pierdo.

Me alegra tanto oír tus promesas mientras te alejas.
Saber que piensas volver algún dia cuando los sapos bailen flamenco y yo te espero
aunque no entiendo bien que los sapos puden dejar de bailar y saltar lejos de su charco
porque mis ojos brillan con tu cara y ahora que no te veo
se apagan porque prefiero que estés a mi lado y que no tengas nada,
te vas y te pierdo...

Pedra

Quando é preciso as pedras nunca são suficientes.

Sempre que estamos perto de chegar a algo, falta irremediavelmente qualquer coisa.

Arrependimento

Quando pegares nas minhas mãos para viajarmos até outros mundos não levarei comigo o maior pecado de todos: o Arrependimento. A noite não terá mais segredos nem terrores. Será uma noite feliz, uma noite de paz. Afinal, a escuridão nunca será tão tranquila.

quarta-feira, setembro 08, 2004

Amizade

De mais ninguém, se não de ti, preciso.
Do teu sereno olhar, do teu sorriso.
Da tua mão pousada no meu ombro.
Ouvir-te murmurar: "Espera e confia!"
E sentir converter-se em harmonia,
O que era, dantes, confusão e assombro.

domingo, setembro 05, 2004

Sonho

O sonho enfim torna-se real. Quando o sol espreita pela janela e de mansinho me toca e acorda. Ali estou sempre ausente deste mundo, numa fantasia que não parece existir mas que afinal é verdadeira. Não é sonho é realidade. O toque, o pensamento, tudo se torna palpável. Sorrisos e doces abraços entre risos disfarçados pela confusão. O silêncio atormenta-me mais do que qualquer outro ruído inesperado. É o acordar súbito da alma. Quando nos apercebemos que somos um infinito número de pessoas numa só. A procura constante de uma só alma não pode resistir à passagem do tempo e à procura da sabedoria. Se ao menos pudéssemos aceitar este Yin e Yang dentro de nós sem nos sujeitarmos aos olhares curiosos da sociedade? Tudo seria mais fácil mas o segredo perder-se-ia para sempre.

A música sim é real! Toca-me sempre como se fosse a primeira vez. E porque a sintonia torna-se sinfonia e os meus sentidos deixam-se levar, como uma caneta a deslizar sobre um papel em branco. Por vezes é bom deixar o pensamento fluir. Acabamos por descobrir a outra metade, ou terço, ou quarto, que nos falta e que afinal nos completa e nos torna inteiros. A solidão é o melhor remédio para quem anda perdido. Se ao menos pudéssemos voltar atrás e mudar as escolhas que nunca fizeram sentido!

quarta-feira, setembro 01, 2004

Medo

Acho que estou a chegar ao limite. Sinto-o perto, tão perto que sou quase eu. Juntos. Inseparáveis. De tal forma que não distingo um do outro. Porquê parar neste mundo infinito de incerteza? Se ao menos houvesse uma justificação para tal acto de loucura. Desaparecer da face da terra. Sem passado. Só presente. Procurando um futuro. Acho que toda esta roda giratória começou a quebrar e já não há escapatória.
Para onde vou e de onde venho? Basta! Grito, mas a agonia é cada vez maior pois o cerco apertou-se e estou no seu centro.
Corre deste monte e procura o horizonte. Talvez um dia permaneças onde estás sem medo do amanhã. Sem medo de morrer e de dizer morri. Pois é isso que sinto. Estou a morrer aos poucos e ninguém compreende a minha agonia. Se ao menos interpretassem os sinais. Sou eu que fujo deles e tudo parece bem quando um sorriso se estampa na face.
Procurar uma outra identidade que me faça feliz e que me faça esquecer que um dia houve eu, houve um passado cheio de esperanças de nada.
A transformação começou e uma nova etapa inicia-se. É preciso coragem para quebrar os laços que me prendem a esse passado quase fatal.
Coragem, amanhã será um novo dia. E aí poderás experienciar o bater das asas em liberdade.

quarta-feira, agosto 11, 2004

Viagens

Sempre procurei fugir à realidade. Qualquer viagem era um escape ao quotidiano, e agora que tenho a minha verdadeira fuga, não consigo deixar-me ir.

domingo, agosto 01, 2004

Seguir...

Seguir em frente sem pensar o que poderia ter sido. O momento passou, atravessou os dedos do tempo e chegou o fim dessa hora. Não adianta olhar para trás. Um dia perceberás que o que foi tinha de ser e se fosse hoje voltaria a ser...

quarta-feira, julho 21, 2004

Os sábios

Certas palavras ameaçam tomar conta de mim. Enchem-me e preenchem-me. Devoram-me de uma forma obcecada como se o mundo não tivesse lugar para mais nada. Só formas obscuras que se deleitam com o prazer de ver sofrer e chorar. Derramar lágrimas por momentos que não existiram na realidade, que foram fruto de um estado de ansiedade e alucinação. É como se tudo isto fosse uma viagem sem destino, o caminhar pelo prazer de conhecer o caminho. Pergunto-me se haverá um desígnio superior ou se não passamos de formigas esfomeadas em cumprimento do dever.
Não me peças para esquecer o olhar e o cheiro pois estão ambos dentro de mim e consolam-me quando a noite parece não ter mais fim.
Lá fora as nuvens passam deixando marcas cravadas no tempo das coisas. Só os sábios conseguem decifrar esta linguagem universal. Só assim nos libertamos de amarras que nos impomos a nós próprios. Mas nem todos vêem, ou querem ver!

Indiferença

Com a morte deste amor por ti, morre também uma parte de mim, algo cujos contornos não consigo ainda delinear mas que com o tempo perceberei, quando a alma apaziguada fechar as feridas desta minha dor derrotada e passiva perante o teu silêncio e a tua mascarada indiferença.

Fim

Chegámos ao fim do caminho, a partir daqui todas as palavras serão inúteis.

quinta-feira, julho 08, 2004

Culpa

Compreendo a necessidade da culpa - a ideia de que alguém poderia, tivesse ele a vontade, coragem ou sentido do dever, ter-se comportado de outra maneira.

segunda-feira, julho 05, 2004

Barco

Tenho medo que o amanhã deixe de fazer sentido, que os sonhos acabem porque não houve coragem para os enfrentar. Rebenta a felicidade e fica pó... de recordações e pequenas alegrias. Mas a dor! Essa é que receio. Adio a sua vinda enganando-me porque já a sinto, bem fundo, escavando dentro de mim, enterrando-se e criando o espaço que ocupará durante todo este tempo.
É como se visse o barco a afundar num mar calmo e tranquilo e não compreendo! pois não é assim que deve acontecer. Mas depois percebo que esse barco leva a minha esperança, uma esperança que não teve vida suficiente para o ser porque lhe fui travando o crescimento.
No fundo tenho medo de acordar desta ilusão que fui criando e alimentando dentro de mim. Se ao menos as cores ainda fossem as mesmas e a música se fizesse ouvir...
O que me consola é que apesar dos nossos corpos se afastarem, tua alma estará sempre comigo, porque fazes parte de mim.

quinta-feira, julho 01, 2004

O belo

Talvez seja melhor parar por aqui, antes que o belo se transforme num pesadelo, antes que a máscara comece a cair, lentamente e sem retrocesso.

quarta-feira, junho 30, 2004

Incerteza

Ao mesmo tempo quero e não posso, posso e não quero.

terça-feira, junho 29, 2004

Tempestade

Esperar enquanto a tempestade interior dos pensamentos intoleráveis se esgota em explosão, deixando-nos a contemplar as ruínas com algum entendimento é um estado mental inevitável.